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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A gestão de design de moda no mercado de vestuário brasileiro

“Desenvolver a Gestão do Design de Moda envolve todo um processo integrado, multidisciplinar e transversal de várias atividades de design.” (Borja de Mozota, 2002, abud: Rech, 2013).

“Possibilita gerir condições favoráveis para a diferenciação entre empresas concorrentes, desde a criação do produto de moda, passando pelas etapas de confecção, acabamento e finalizando na relação diária produto-usuário (Rech,2013).”

Nunca se falou tanto na Gestão Criativa e no Papel do Gestor de Moda no segmento de vestuário no meio da moda mundial.
Exemplos da eficiência do papel desse gestor para diferencial na marca não faltam: Marc Jacobs com a Louis Vuitton, Tom Ford (como pioneiro no cargo de Diretor Criativo) resgatando a Gucci do esquecimento e Francisco Costa modernizando a Calvin Klein.
No Brasil novos cursos de Gestão em Design de Moda e Design de Moda são criados constantemente em níveis de graduação e pós-graduação. Cursos rápidos de aperfeiçoamento em modelagem, desenho de moda, pesquisa de mercado e costura também são priorizados assim como cursos técnicos voltados para o segmento de moda.
FAAP, SENAC, USP, Belas Artes, para citar algumas faculdades e universidade somente na cidade de São Paulo, oferecem cursos nas mais diferentes áreas do segmento de moda, indo, contrariamente, ao encontro das entidades e empresários do segmento que pregam que as instituições de ensino não oferecem cursos nas áreas de formação que o mercado realmente precisa.
Nesse sentido, percebemos que a educação se modernizou antes dos empresários do segmento.

Hoje no Brasil, ainda sob essa visão superficial, existe a percepção de que mesmo a carreira de estilista não é totalmente estabelecida no país ou que esses, estilistas/designers, não cumprem o papel para o qual o cargo determina.
Conforme o site de emprego Catho, o cargo de estilista tem a seguinte definição e atribuições:

Os estilistas são aqueles que ditam moda e criam coleções de roupas e acessórios, exercendo forte influência sobre a maneira como as pessoas se vestem. O estilista pode trabalhar no desenho têxtil, desenvolver acessórios, supervisionar o desenvolvimento de novos produtos, pesquisar o mercado, elaborar estratégias de venda, montar e projetar vitrines e estandes, assessorar lojas na compra de mercadorias, associando a necessidade do cliente a do lojista.).”

A partir dessa definição, poderíamos afirmar que estilistas brasileiros são mais interpretadores e adaptadores de tendências de passarelas internacionais, em sua maioria, do que realmente criadores de moda?
Sendo a afirmação uma verdade, seria comportamento dessa classe criativa de exigência de seus empregadores e clientes diretos (as empresas), que são pressionados constantemente pelo mercado do fast fashion?

Fato é que no  setor confeccionista nacional há predominância de pequenas empresas.

“(...) a formação da indústria de vestuário se deu pelo crescimento dos pequenos ateliês de costura, das alfaiatarias e da iniciativa de imigrantes que se estabeleceram no ramo. (...) Explica o grande número de empresas familiares e de capital fechado (...)”(Costa, Berman e Habib, 2000).  

Mesmo com esse perfil de mercado, de pequenas empresas familiares, muitas confecções e indústrias se atualizaram tecnologicamente, modernizando máquinas, métodos e processos de produção, mas foram na contra mão das atuais teorias de gestão de design do produto como ferramenta e diferencial estratégico.
O processo criativo e sua gestão realmente não acompanharam a evolução tecnológica e, ao contrário do que se afirma, as dificuldades políticas e tributárias não foram os únicos determinantes para o não desenvolvimento dessa área no setor de vestuário.

Historicamente não é mérito dos políticos atuais intervirem negativamente na indústria. 
Em 1781 a rainha D.Maria I, através de um Alvará real, proibiu a fabricação de tecido no Brasil então Colônia Portuguesa, determinando que fossem quebrados teares e demais equipamentos envolvidos no processo produtivo têxtil atrasando em décadas o desenvolvimento da indústria têxtil brasileira, tornando o Brasil consumidor e dependente de produtos importados (Chataignier, 2010).

(Decreto)


Temos então a economia, tanto interna quanto externa, que não favorece o setor, o mercado invadido por produtos chineses sem qualidade, baratos e produzidos por mão-de-obra quase escrava, a falta de criatividade do designer de moda brasileiro, talvez sufocado por uma visão obsoleta de mercado de seus gestores, e na ponta o consumidor que se vê cada vez mais limitado e sem opção de compra para produtos internos, importando seus “sonhos” de modelos americanos de consumo, em uma realidade divergente do consumidor e do mercado americano.

A gestão do design de moda ajuda não somente a promover a marca e atender o público alvo, como interfere positivamente em todas as etapas do processo produtivo, antecipando gargalos de produção, ajudando a resolver problemas que possam acontecer, com uma postura proativa e de gestão de qualidade.
Trabalhando nesse contexto, muito do que é resolvido no momento da produção produto, já virá antecipado e solucionado em uma gestão de design, fazendo com os processos de produção seguintes ao da criação, fluam com agilidade e eficiência, levando a menos perda de matéria prima e eficiência na administração do tempo. Além, claro, no ganho em qualidade e originalidade no produto final, atendendo com isso um público, tanto interno quanto externo, cada vez mais interessado e informado em relação à moda.

(trechos da justificativa do trabalho de mestrado em Moda e Têxtil)